28 August 2007

Vizinhos I



Moro numa rua como tantas outras... E daí talvez não. Apesar de localizada no meio da cidade, ainda é uma rua onde as pessoas se conhecem, onde o café da Dona Alzira ("Orquídia") ainda é ponto de encontro para desabafos, cusquices e discussões políticas e futobolísticas. Nasci e sempre morei aqui e não me lembro das coisas serem diferentes. E é uma rua onde existem pessoas para todos os gostos e feitios.

Não é de estranhar, portanto, que a chegada de novos vizinhos tenha gerado curiosidade e muita conversa. A Tia Alice (como é conhecida por todos) sempre à janela, a ver mobílias a entrar, a controlar todo o processo de mudanças dos "novos", como já eram tratados por todos cá na rua.

Um casal com um filho (mais ou menos da minha idade acho) é tudo o que se sabia sobre eles. Mas conhecendo a dinâmica e as pessoas cá da rua, sei que depressa se iria saber muito mais.

E não foi preciso esperar muito tempo. Bastou uma ida da nova vizinha (coitada mal sabia onde se estava a meter) ao "Orquídia" para que o interrogátorio (embora bem disfarçado) começasse. E foi fantástico ver como naquele momento em que ela entrou, quase todos os vizinhos (incluíndo a minha mãe) decidiram ir beber café. Depressa fiquei a saber que os novos vizinhos eram Doutora Joana (médica), o seu filho Pedro e o novo companheiro Luís (enfermeiro).

Claro que a minha mãe (boa vizinha como é) me dispoibilizou logo para mostrar ao Pedro a zona e apresentar alguns amigos, uma vez que eles eram das ilhas e não conheciam nada daqui.

"- A ver se vais dar uma volta com o rapaz, coitado. A Doutora Joana disse que isto não está a ser fácil para ele. Foi o divórcio dos pais, que ela disse que não foi nada amigável, e agora o estar num sítio novo, longe de tudo e todos que conhece.

- Mas mãe....

- Não te ponhas com histórias. Se fosse ao contrário também ias gostar que te ajudassem. Inda por cima a Tia Alice diz que os pais se separaram porque a Doutora Joana se enrolou com o enfermeiro...

- E como é que ela sabe?

- Oh filho sei lá. Deve ter percebido pela conversa..."

E é assim que começam os boatos cá na rua... O velho "diz que disse". A minha mãe mete-me em cada uma...

Enfim! Vamos lá ver o que isto vai dar....

2 comments:

Nobody's Bitcho said...

ihh! Gostei imenso! eheheh Entao o boato da médica com o enfermeiro, ui! lololol xD

Vai lá dar uma volta com o Pedro, coitado! :P Nao te ponhas com frescuras. Vá, anda! :P lol

eheheh Gostei imenso do post. Vê la se continuas a actualizar assim =)


Abracinhos ^^

Bruno Moutinho said...

Pois, é comum esse tipo de coisas acontecerem. Infelizmente parece que vivemos todos num quintal onde só falta existir um jornaleco da região onde temos oportunidade de ler a vida de cada um... Parece que as pessoas só ficam felizes quando cheiram o cú uns dos outros (desculpa pela expressão).

Tens aí a história toda. Em todos os bairros temos o mundo de aldeia: um café ou tasca (ponto de encontro para o tricô), uma Tia Alice (a jornaleira), bimbos e bimbas sem vida própria e, é claro, os recém chegados, que são alvo de cusquice e má lingua até se tornarem iguais ao padrão do bairro.

Achei o post engraçado e mostra a realidade provinciana em que vivêmos. Cultura? Para quê? Num mundo em que temos 3 ou 4 telenovelas por dia, uma autêntica lavagem cerebral, vamos nós criar a nossa própria telenovela. Pensar? Como diria o nosso amigo, "pensar é estar doente dos olhos"...